Os Percalços de uma Conquista - XX Capítulo


CAMINHOS OPOSTOS




Após os momentos inesperados de prazer que Osmar acabara de lhe proporcionar naquela noite, Gleice nunca poderia imaginar que o ex-colega de trabalho fosse querer prolongar aqueles instantes em seu apartamento. Afinal de contas, ela o conhecia muito bem para saber dos seus cuidados para não deixar furos com a sua mulher e filhas. Era um cara que ela já conhecia a bastante tempo que, por confiar em sua discrição, algumas vezes abriu seu coração revelando o quanto adorava a sua família. E foi por não entender aquela atitude de querer subir e pernoitar em seu lar, que ela o questionou: - Diga-me então meu querido: que truque é esse agora que lhe faz desistir de voltar para casa?

- Truque nenhum minha querida. Apenas o cancelamento da minha ida para Timóteo que estava marcada para esta tarde, causado que foi por problemas urgentes de trabalho aqui no Rio de Janeiro. Yolanda já estava avisada da viagem, não consegui comunicá-la desse imprevisto a tempo e agora estou aqui.

- Mas isso você decidiu de repente, não foi? Quando deixamos o restaurante hoje à tarde, até chegarmos à porta do meu prédio em seu carro, estava claro que você queria retornar pra casa.

- E era isso mesmo o que eu ia fazer. Chegar de surpresa para a minha mulher e alegrar as minhas filhas. Mas não poderia ir embora e deixar você aborrecida e magoada comigo. Não suportaria deixar a nossa amizade abalada por causa de um assunto mal resolvido.

- E que foi muito bem resolvido meu amor. E como foi! Rebateu Gleice com a sua gargalhada característica.

- Ainda mais que ficaremos um longo período sem nos ver. Não queria partir para a viagem com esse peso na consciência.

- O peso da consciência você tirou, mas que vai deixar muitas saudades você vai! Confessou a moça aos sorrisos.

- Sentirei a sua falta também, e agora muito mais. Depois do que acabamos de passar juntos, você já faz parte do meu corpo.

- Oba! O que é isso? Será que estou escutando direito? Será que fui tão competente assim? Adorei essas palavras meu amor... Exultou Gleice se jogando nos braços do rapaz.

Ciente que Osmar pernoitaria em seu apartamento, Gleice se preparou para ser uma boa anfitriã. Trouxe toalhas para o banho do rapaz, arrumou sua cama e preparou um lanche reforçado para os dois. A conversa fluiu pela madrugada com Gleice confessando não saber o que fazer em suas férias a partir do início de dezembro na próxima semana e com Osmar mostrando preocupações com o seu emprego que exigiria novos desafios a partir daquele mesmo mês. Entre troca de carinhos e juras de amor diante de um filme na televisão no quarto da moça, os dois não resistiram o cansaço e, sem voltarem ao sexo, caíram em sonos profundos bem agarradinhos no calor de seus corpos cobertos apenas por um lençol macio e perfumado.

Já se passava das dez horas da manhã daquele sábado quente de final de primavera, quando Osmar, ainda sonolento, foi despertado com os lábios de Gleice rodeando sua pelve e virilhas. Suas mãos irrequietas e indiscretas acariciavam suas bolas com carinho, provocando, com sua habilidade, o despertar de um membro até então adormecido. Ele cresceu em suas mãos, esquentou, ficou mais vivo e latejou dentro da sua boca. Gleice tratou o amante com carinho e maciez subindo e descendo a sua língua naquele ponto inerte e ereto sem tocá-lo com seus dentes. Osmar adorou aquilo tudo e achou excitante quando Gleice aproximou os seus seios para receber o seu gozo. O leite foi derramado e ela, com os olhos brilhantes, espalhou aquele prazer do amante pelo seu corpo, como se fosse um creme massageando sua pele.

- Nunca em minha vida acordei tão bem de um sonho. Porque tudo que você acabou de me proporcionar, foi um sonho minha querida. Elogiou Osmar.

- É que você merece e não quero que me esqueça. Se você gostou, lembre-se que sempre estarei aqui. Se ainda não consegui, pretendo lhe conquistar de vez. Rebateu a moça com decisão.

- Você já me conquistou a partir da noite passada. A partir de hoje nós seremos apenas uma pessoa. Sempre juntos enquanto o tempo e a vida nos permitir.

- Essa mesma vida que já vai nos deixar por um bom tempo. Tomara que passe rápido e encurte a distância dos nossos caminhos. Mas fique sabendo: enquanto você estiver em Minas Gerais, estarei aqui lhe esperando ansiosamente pela sua volta ou por um retorno não programado.

- E não deixarei de procurá-la, tenha certeza. Mas as perspectivas não são boas. Devo ficar praticamente todo o mês de dezembro e parte de janeiro em Timóteo, por conta de treinamentos e adaptações agendados previamente pela Acesita.

- Mas a sua família vai junto não vai?

- Não irão comigo não. É uma cidade pequena do interior, a Yolanda já está indo para o sétimo mês de gravidez e seria muito complicado pra ela. Devo voltar apenas para passar o natal, o ano novo e retornar logo depois.

- Então, pelo que estou sentindo, só iremos nos ver no final do ano. Que pena...

- As minhas provas na faculdade terminam agora nesta última segunda-feira de novembro e terei uma semana para preparar a minha viagem. Não sei se poderei lhe ver antes disso. Muita coisa pra resolver ainda no escritório e também em casa. Mas farei de tudo para encontrá-la.

Após outro banho a dois quando Osmar conseguiu extasiar e levar outra vez Gleice às estrelas, o rapaz se aprontou após um café reforçado e se despediu da nova amante prometendo voltar e se comunicar com ela toda vez que o tempo e a hora assim permitissem.

A vida dos principais personagens desta história tomou outros rumos a partir daquele momento. O fim de ano já havia chegado e não seria o mesmo de outras épocas. Tanto Leny como Osmar, avançaram com satisfação o ano de estudos e entraram em férias logo depois. Osmar definitivamente por ter conseguido o bacharelato em economia e Leny por ter concluído o primeiro período em psicologia. A moça, apesar de tê-lo encontrado algumas vezes na faculdade, estava irredutível e mostrava naquelas ocasiões, toda a sua mágoa ao evitar a aproximação do rapaz, como se ele fosse alguém desconhecido ou qualquer pessoa que não merecesse a sua confiança.

E foi assim com contratempos, dúvidas, impasses e comprometimentos, que o mês de dezembro chegou para eles. Na segunda semana daquele mês Osmar partiu para Timóteo/MG, horas após se despedir de Gleice através de um telefonema. A sua permanência na matriz da Acesita já estava programada com antecedência e por lá deveria ficar até o dia dezenove daquele mês (última segunda-feira antes do natal) com retorno previsto para logo após a entrada do novo ano. Por conta da sua gravidez e dificuldades para as crianças, sua esposa Yolanda não viajou e permaneceu em casa ao lado da sua mãe que se mudou pra lá com armas e bagagens a pedido do seu genro.

Na semana anterior Gleice entrou em férias e Leny sentiu como os dias não são iguais. Ela já havia se acostumado com a presença da colega e a sua ausência no trabalho lhe trouxe a sensação de abandono tão normal para uma jovem mulher cheia de problemas e decepções. A sua cabeça não concatenava as coisas e não lhe dava ânimo para reagir a tanto pessimismo e tristeza. O seu pai continuava doente, a sua barriga estava enorme no sétimo mês de gravidez e Osmar havia sumido de vez. Logo ele que era a sua válvula de escape e que sempre encontrava um meio de amenizar as dificuldades. Logo ele que foi embora para Minas Gerais, levando o duro golpe da sua mentira sobre a paternidade da criança. Logo ele que havia demonstrado mais uma vez a prova fiel do seu amor, com aquela poesia que ela ainda guardava dentro do seu diário.

Mas fazer o quê agora? Leny estava indefesa e agoniada com tanta falta de perspectivas em sua vida. Seus pensamentos iam e voltavam sem trazer uma solução ou um caminho para o seu drama, quando resolveu, mais uma vez, pedir socorro a Gleice naquela última quarta-feira antes da semana do natal. Telefonou e marcou o encontro com a colega em seu apartamento, que concordou prontamente por ver a possibilidade de receber notícias de Osmar. O rapaz, desde que viajou, não manteve mais contato durante aqueles vinte dias e Gleice também estava agoniada. Mas ela sabia que a conversa com a sua colega grávida não seria fácil, ao lembrar que ele passou para o seu lado logo após aquela noite maravilhosa. Mas resolveu arriscar e receber aquela menina que, apesar de tudo, ainda lhe conservava um carinho muito grande.

Ao abrir a sua porta para a entrada da colega, Gleice sentiu o nervosismo e a impaciência que ela trazia, quando Leny perguntou de pronto sem ao menos cumprimentá-la ou agradecer sua hospitalidade: - Gleice, você sabe do Osmar? Sabe por onde ele anda e como posso encontrá-lo?

- Nossa! Nem uma boa noite ou um beijinho no rosto? Que corrida é essa menina, que se esquece das boas maneiras? Ou será falta de educação mesmo? Irritou-se a colega, visivelmente contrariada por Leny voltar a perguntar por alguém que agora fazia parte da sua cama.

- Desculpa-me Gleice, mas é que eu ando muito preocupada e sem paciência para resolver os meus problemas. Boa noite minha querida e releve essa atitude infeliz que veio comigo. Tentou apaziguar a jovem colega.

- Eu estive com o Osmar no final do mês passado e depois disso nunca mais me deu notícias. Respondeu Gleice à pergunta da colega, prosseguindo: - Ele estava com viagem programada para Minas Gerais a partir do início deste mês e deve estar ainda por lá. Foi a trabalho e não levou a família.

- Mas ele deve retornar para as festas de final de ano, você não acha? Afinal de contas, ele não pode esquecer a mulher e filhas em período tão importante. Observou a menina.

- Também acho. Mas também acho que ele não pode esquecer também de outras pessoas... Pessoas que lhe querem muito bem. Comentou Gleice se colocando no meio da questão.

- Eu preciso muito do Osmar e quero-o pra mim. Fui uma boba ao falar certas coisas pra ele. Estou muito arrependida por minhas palavras. Entregou-se de vez Leny às suas carências.

- Não sei o que lhe dizer ou como lhe ajudar. O Osmar, surpreendentemente e fora do seu contexto, desabafou comigo antes de viajar. Estava muito magoado por você evitá-lo e mentir sobre a paternidade do seu filho. Não existe ofensa maior para um homem do que uma traição. Respondeu Gleice pensando em si e tentando colocar dificuldades na reconciliação daqueles dois.

- Mas não houve traição nenhuma e o filho é dele. Preciso desmentir tudo e trazê-lo de volta para os meus braços. Ajude-me minha amiga. Implorou Leny, desconhecendo a nova posição da colega com relação ao rapaz.

Gleice sentiu arrepios com aquelas últimas palavras de Leny. Não era o que ela queria por não ter certeza se Osmar resistiria àquele apelo da jovem amante. Gleice sabia muito bem o perigo que estava correndo ao entregar novamente a menina de bandeja para o rapaz. "Foi assim que tudo começou", pensou ela, lembrando-se do "Quem desdenha quer comprar" do início da história. Mas agora a situação era outra e ela também guardava os seus interesses. Não tinha sentido ela agir contra si, desistindo de alguém que tanto lhe fez bem, apenas por causa de uma amiga que passou a ser a sua rival. E que rival! Uma rival de grande potencial que poderia, com certeza, prejudicar o seu recente envolvimento com Osmar.

Gleice calou-se pensativa diante da colega, sem saber o que dizer. A decisão da menina de querer reatar com o rapaz a pegou de surpresa, por acreditar que o caso dos dois já havia se encerrado de vez. Leny não sabia que a colega agora era outra e muito menos poderia imaginar que ela já havia levado o rapaz para a sua cama. O que fazer então? Ela poderia muito bem prometer ajuda e empurrar o caso com a barriga, sabendo de antemão que Osmar só voltaria a contatar a rapariga se esta o procurasse. Mas Gleice, ao respondê-la, tomou coragem e tomou uma decisão inesperada sem dó e piedade, quando abriu o jogo de forma impactante: - Leny, agora o meu relacionamento com Osmar é outro. Não tenho como ajudá-la com isso.

- Como assim? Vocês estão brigados? Estão distantes? Não estão se entendendo mais? Surpreendeu-se Leny.

- Nada disso minha querida. Distantes sim, mas brigados não. Estamos nos entendendo tão bem, que não quero outra coisa. Rebateu Gleice deixando dúvidas no ar.

- O que é isso agora, Gleice? O que você quer dizer?

- Que eu e o Osmar estamos juntos. Foi algo que rolou de repente sem qualquer explicação. A gente se entregou por conta de carências que acenderam nossos desejos.

- Epa! Não acredito! Você foi capaz de dar em cima do Osmar, aproveitando-se da situação? Não posso supor que ele também tenha chegado a esse ponto! Que decepção! Que apunhalada pelas costas vocês me deram, hein!

- Até concordo com a sua decepção, mas apunhalada nas costas não houve. O Osmar estava livre quando aconteceu e nunca iria me envolver com ele, se vocês estivessem juntos. Pelo que estou sabendo, foi você que terminou tudo com ele, não foi? E não foi você também que não deu bolas quando ele tentou nova reaproximação? Não foi minha querida? Pra mim, com relação a você, ele estava solto e desimpedido.

- Está tudo muito claro agora Gleice. Você acabou conseguindo tudo que queria, não é mesmo? Terminou a sua perseguição para engolir o Osmar. Continue fazendo bom proveito dele e ordenhando o seu leite.

- Calma menina! Sem ofensas, por favor, que você está na minha casa. Não admito que você fale assim comigo.

- Antes de pedir respeito, você deveria pensar antes de cometer tamanha sacanagem. Sacanagem acompanhada de falta de ética, de brio e de dignidade. Que sujeira hein!

- Não importa o que você pensa e não estou ligando pra isso. O que importa é que o Osmar agora está comigo.

- Então continue bebendo o seu leite e que seja muito infeliz com ele. Você vai ter a sua volta e pode esperar por isso. Faço questão de procurá-lo para que ele confirme tudo na minha cara. Não acredito que Osmar tenha sido tão canalha ao se envolver logo com você. Por essa eu não esperava e não vou pedir desculpas pela vergonha que passei. Abra a sua porta que eu não estou aguentando mais olhar para a sua cara.

O diálogo acabou ali, deixando no ar constrangimentos causados por decepções, mágoas e surpresas desagradáveis. Enquanto Leny com lágrimas nos olhos abandonava às pressas aquele endereço e caminhava desorientada pelas ruas em busca de condução, Gleice permaneceu estática e sem ação em casa. Estupefata com o entrevero que foi provocado por sua infeliz revelação, Gleice não sabia o que fazer. Foi um desabafo fora de hora que chocou por demais a sua colega, exatamente no momento que ela mais esperava por sua solidariedade. Gleice ao dar um tempo para pensar e se acalmar, avaliou então, que aquela revelação bomba poderia lhe trazer sérios problemas com Osmar. O seu arrependimento não demorou muito e o seu pesar pelo sofrimento da garota veio logo a seguir. "Que merda eu fiz! Como será agora o nosso dia-a-dia no trabalho?" Dialogou com seus próprios botões.

Mas a reação da Leny não demorou muito. Ela não esperava por aquela triste novidade contada por Gleice e muito menos que Osmar tivesse sido o principal envolvido na história. Isso era inacreditável, por tudo que ele já tinha lhe garantido a respeito de um possível envolvimento com a sua colega. Ela precisava tirar aquela situação a limpo e dar uma boa resposta à Gleice. O seu sentido de vingança veio à tona e ela não pensou duas vezes para dar o troco à sua nova rival. E foi assim, descontrolada, chorosa e enraivecida, que Leny chegou à casa e foi logo perguntando a sua mãe: - Mãe, aonde está aquele cartão-de-visitas que o Osmar deixou com o meu pai? Preciso falar com ele com urgência.

- Mas o que houve agora, minha filha? Que cara é essa? Questionou Valdívia toda preocupada.

- É que eu soube que ele viajou e está fora da cidade. Precisamos conversar sobre a criança. Disfarçou a filha.

- Mas será que é só isso mesmo? Não vejo motivo pra tanto descontrole. O Osmar já garantiu várias vezes que quer assumir o seu filho. Insistiu Valdívia.

- Mas é só isso mesmo. Ele não está mais perto da gente, não sei quando volta e a criança está para nascer. Vem aí o Natal, o Ano Novo e logo no início de fevereiro o Carnaval. São muitas festas juntas e não quero que ele esqueça que a gente existe. Justificou-se Leny.

- E será exatamente em fevereiro, se tudo ocorrer bem e vai ocorrer, que a criança vai nascer. Você sabe muito bem que Osmar chegou a vir aqui, conversou com o seu pai e prometeu assumir a criança tão logo você confirmasse a sua paternidade. Coisa absurda, você não acha? Prosseguiu Valdívia lembrando promessas do rapaz.

- Mas agora ele vai receber esta confirmação. Me entregue o seu cartão-de-visitas porque eu já perdi muito tempo com isso. Determinou Leny encerrando o assunto e subindo para o seu quarto.

No dia seguinte, logo na manhã do expediente daquela quinta-feira quinze de dezembro, Leny não perdeu tempo com aquele cartão-de-visitas nas mãos. Após ligar do trabalho para o escritório no Rio de Janeiro e se informar dos números de telefones da Acesita em Minas Gerais, a menina ficou bem à vontade com a ausência de Gleice na secretaria para se comunicar com Osmar. O rapaz falava constantemente com a mulher Yolanda, que nunca deixou um dia sequer de fazer suas ligações diárias através do aparelho da sua mãe. Osmar já estava acostumado com aquelas ligações geralmente no horário do almoço e não imaginou, naquela manhã, que do outro lado da linha estivesse alguém que não fosse a sua esposa. E ele atendeu o telefonema da mesma forma de sempre: - Bom dia meu amor. O que aconteceu para você ligar mais cedo? Algum problema?

- Osmar, se liga! Quem está falando é a Leny, não a sua mulher. Bom dia pra você também.

- Nossa! Que susto! Mas é muito bom voltar a ouvir a sua voz. O que está acontecendo minha querida.

- Vou ser rápida e rasteira. Preciso muito conversar com você. É urgente e não posso esperar muito. Quando a gente pode se encontrar?

- Agora fiquei preocupado. O que está acontecendo Leny? Algum problema com a criança?

- Também, mas nada grave. Precisamos resolver algumas situações. Colocar alguns panos em pratos limpos.

- Olha só. Vou estar aqui até amanhã e pretendo retornar amanhã mesmo. Nos dois primeiros dias da próxima semana vou ter que resolver algumas coisas aí no escritório. Poderemos nos ver, o que você acha em um almoço?

- Pode ser Osmar. Ou também em outra hora sem muitas badalações.

- Então a gente combina na segunda-feira. Aguarde o meu telefonema na parte da manhã.

- Combinado. Estarei lhe esperando e não falte, por favor. Tchau!

Leny desligou o telefone de pronto sem se despedir direito e deixou Osmar surpreso com tanta frieza da menina. Ela lhe pareceu muito decidida para resolver algum problema e isto o incomodou bastante durante todo aquele dia. Osmar retornou de Timóteo naquela sexta-feira e aproveitou para dedicar aquele final de semana à sua família. O tempo que ele ficou longe de casa, foram momentos de preocupação com a gravidez de Yolanda e de saudades das suas adoradas filhas. Foi um final de semana que Osmar resolveu aproveitar para descansar de tanta correria e ficar paparicando as meninas sem sair de casa. Yolanda entendeu a necessidade do marido e também não insistiu com passeios, incomodada que estava com aquele barrigão às portas do causticante calor carioca. Foram momentos de desfazer as malas, repor as coisas nos lugares, botar o papo em dia e voltar à rotina de sempre. A mesma rotina que Osmar se acostumou e sentiu muita falta em Minas Gerais. A alegria das crianças muito agarradas com ele e a dedicação da mulher eram tudo que qualquer bom chefe de família deseja.

No entanto, mesmo bastante cansado e estressado após um longo período fora de casa, Osmar não se esqueceu dos seus entes queridos e achou por bem agradá-los de alguma forma. Programou outra viagem e contratou uma pousada em Cabo Frio para o final de ano a partir do dia 21 de dezembro (quarta-feira e início do verão) até o primeiro dia de janeiro (domingo e feriado). Cabo Frio é uma acolhedora cidade litorânea na Região dos Lagos, distante a 156 km do município do Rio de Janeiro, muito procurada por turistas e veranistas em épocas de festas e feriados prolongados. E era exatamente naquela cidade com muito calor e boas praias, que Osmar aproveitaria os dez dias de descontração de que tanto precisava. Mas o que ele não imaginou naquele momento, é que precisaria de muitas outras distrações para tentar esquecer e fugir das pressões e aborrecimentos que estavam por vir.

Após o encerramento do seu expediente às 17h30m daquela segunda-feira, Leny surgiu à frente de Osmar que a aguardava num bar próximo ao seu trabalho. Osmar ofereceu a cadeira para a garota com um sorriso nos lábios e começou: - Que bom encontrá-la minha querida. Muitas saudades... Como você está passando Leny? Como está indo esta gravidez? Você está muito mais cheinha, hein!

- Cheinha tenho que estar mesmo, porque já estou entrando no sétimo mês. Mas este encontro poderia ser por motivos bem diferentes... Precisava esclarecer algumas coisas para você, mas agora é você que tem que esclarecer outras pra mim. Rebateu de pronto Leny mostrando desconforto.

- Ainda precisamos esclarecer algumas coisas Leny? Tudo ficou bastante claro pra mim no nosso último encontro. Devolveu Osmar com certa indiferença.

- O que deve ter ficado claro para você foi a inverdade que falei sobre a criança. Só pode ser isso, porque você é o culpado por esta barriga. Respondeu Leny desmentindo o que já havia dito em outra ocasião.

- Nunca acreditei naquela mentira e nunca tive dúvidas que esta criança faz parte de mim. Vangloriou-se o rapaz.

- Como também nunca tive dúvidas que a Gleice não era apenas uma amiga para você. Só uma idiota como eu, para vocês me enrolarem até agora. Ironizou a moça mostrando decepção.

- Que história é essa Leny? Do que você está falando?

- Que você e a Gleice são dois amantes bem sem-vergonhas e sem quaisquer escrúpulos. Dois canalhas que não respeitam o sentimento dos outros.

- Êpa! O que é isso agora? Vamos com calma menina, que eu sempre lhe respeitei.

- Respeitou coisa nenhuma! Nem você e nem ela que se dizia minha amiga. Amiga da onça, isso sim é o que ela é.

- Ainda não estou entendendo aonde você quer chegar... Não sei por que a Gleice está entrando nesse bolo.

- Não sabe mesmo, Osmar? Coitadinho... Tão inocentezinho...

- Vamos falar de nós e deixar a Gleice pra lá. O que tem ela a ver conosco?

- Tem muito a ver sim, Osmar. Ou você já se esqueceu das horas de sexo que você passou com ela algumas semanas atrás?

- Não acredito que você esteja falando isso... Jogando verde pra colher maduro minha querida? Mas comigo não cola e nem vou entrar na sua...

- Não adianta desmentir Osmar, porque foi a própria Gleice que me contou tudo. Ela abriu o jogo e chegou a dizer com a maior cara-de-pau, que você agora é dela. Estava muito feliz ao confessar a sua relação amorosa e nem se importou com a minha surpresa e fragilidade.

- Se você pensa que eu vou confirmar tudo isso, está muito enganada. Se ela falou essas coisas, vai ter que se explicar comigo. E com você também.

- Comigo não. Não quero mais saber dela e de você também. A paulada foi muito forte e essa traição não tem perdão. Fique com ela e seja muito infeliz. Vocês dois se merecem.

- Você está muito nervosa, Leny. Não quer deixar para a gente conversar melhor outro dia?

- Vamos conversar sim em outro dia, mas é para você resolver a situação da criança. Não vou exigir, nem quero que você o registre como pai. Mas outras ações eu vou querer da sua parte. Não posso assumir a sua criação sozinha.

- Mas eu quero registrá-lo, como sempre demonstrei para você e para os seus pais. Quero assumir essa responsabilidade.

- Mas acho melhor você se preocupar em registrar o seu outro filho com a sua mulher. Para esse você não terá os problemas que a minha criança pode lhe causar. Ou você não sabe que ao registrá-lo, ficará comprovada a sua bigamia? Não deveria, mas estou falando até para o seu próprio bem.

- São situações para se resolver no tempo certo. E a gente vai encontrar uma solução. Depois que tudo se acalmar, eu sei que nós resolveremos a questão da melhor maneira possível.

- Assim eu espero, porque não quero ver o meu filho abandonado pelo pai. Mesmo porque você não tem outra saída. Ou assume direitinho como manda o figurino ou terá a sua vida revirada pelo avesso.

- Que raiva é essa, Leny? Está me ameaçando? Não estou lhe reconhecendo... Nunca passou pela minha cabeça ignorar o nosso filho.

- Não quero saber mais de você e qualquer aproximação de mim será apenas com relação à criança.

- Você está muito nervosa e não vou prolongar a discussão. O clima neste momento está me recomendando parar por aqui.

- Não estou só nervosa não, Osmar. Estou muito magoada e decepcionada com a sua atitude. Eu sei muito bem que a gente terminou há algum tempo, mas se envolver logo com a Gleice? Tenha paciência! Poderia ser qualquer uma, mas com a Gleice foi o fim.

- Não vou falar sobre isso. Não costumo envolver pessoas ausentes em minhas conversas. A Gleice é minha amiga e ainda não estou acreditando nessa intriga.

- Fui procurá-la para tentar um abrigo para a minha solidão e tristeza, mas o que recebi foi uma apunhalada nas costas. Eu estava sentindo muito a sua falta e recorri a ela para tentar a reaproximação com você. Cheguei a seu apartamento toda deprimida, fragilizada e chorona atrás de um ombro amigo e ganhei em troca a maior decepção da minha vida. Uma decepção chamada Osmar que, apesar de tudo, ainda morava em meu coração por conta dos resquícios de um grande amor e também pelo homem de caráter que eu tanto admirava. Mas agora acabou, porque isso tudo morreu depois que deixei o lar de Gleice aos prantos.

- Olha aqui minha querida... Não posso assumir palavras ou atitudes vindas dos outros, mas se você permitir peço-lhe desculpas por ela. E principalmente por mim que lhe causou tanta revolta. A gente vai precisar se entender daqui pra frente e quero muito continuar tendo você ao meu lado para caminharmos juntos na educação da criança. Pense nisso, deixe a poeira baixar e não me queira mal porque ainda gosto muito de você.

- A dor é muito grande, Osmar. Inesquecível para apagar tanto ódio e sentimento de vingança. Mas a vida deve continuar, não é mesmo? Tanto deve continuar que estou saindo daqui agora pelos meus passos e com a cabeça erguida. Concluiu Leny encerrando a conversa, levantando-se da cadeira e preparando-se para ir embora.

- Não saia assim Leny, que eu vou deixá-la em casa. Os ônibus há esta hora andam superlotados. É muito incômodo para você com esse barrigão. Ofereceu-se Osmar, tentando amainar o fogo daquele incêndio provocado pela Gleice.

- Agradeço, mas não preciso de tanta gentileza. Vou embarcar no primeiro táxi aqui na rua. Daqui pra frente, espero encontrá-lo o mínimo possível. Deixei aqui o meu amor e estou levando de volta o rancor de quem foi traída por tanta falsidade. Que Deus tenha piedade de nós. Despediu-se de vez a rapariga.

Quarenta minutos depois, Osmar adentrava pelo apartamento de Gleice, logo após ela atender a campainha e abrir a sua porta. Mas a sua alegria ao receber o rapaz naquele primeiro momento, foi transformada em preocupação pela fisionomia fechada do ex-colega. Ela não perdeu tempo e quis saber: - O que aconteceu Osmar? Que cara é essa? O que houve para você aparecer aqui tão de repente? Mas adorei muito, viu!

- Você não tinha o direito de fazer o que fez! Abrir o jogo logo com a Leny! Rebateu de pronto Osmar, sem maiores delongas.

- Ah! Já vi que a coitadinha foi fazer queixas, não é mesmo? E pelo visto você não as digeriu muito bem... Ironizou Gleice, com menosprezos à garota.

- Realmente... Não bateu bem no meu estômago e está causando enjôos até agora. Causando náuseas e desconfortos para o meu corpo.

- Mas você não vai esquentar a cabeça com isso, não é mesmo? Afinal de contas, a Leny não faz mais parte da sua vida.

- Claro que faz e fará por muito tempo. Ou você se esquece que ela está grávida de sete meses? Queira você ou não, a Leny vai ser mãe de um filho meu. Só isso basta para não esquecê-la nunca mais.

- Mas não precisa ficar bajulando ela a qualquer hora. Correr para os seus braços todas as vezes que for chamado. Se ligue Osmar, porque ela agora vai querer infernizar a nossa relação. Aliás, já começou a infernizar...

- O que você causou com a sua infeliz atitude, foi um grande constrangimento perante a garota. Um constrangimento que me obrigou a ouvir palavras duras e ofensivas de Leny. Palavras cheias de ódio e mágoas que nunca imaginei da parte dela. A minha boa imagem junto à garota caiu por terra e o nosso relacionamento daqui pra frente ficou muito prejudicado. Muito lamentável tudo o que aconteceu.

- Que relacionamento é este que você ainda almeja? Você ainda tem esperanças de voltar pra ela? Que amor, hein!

- Estou falando do relacionamento de pai e mãe para uma criança e não sobre o que você está pensando. Aliás, cheguei à conclusão que certos relacionamentos têm hora e dia para terminarem...

- Êpa! O que você está querendo dizer?

- Que o nosso caso Gleice, termina aqui. Vou sumir de vez dessa roda-viva que só vai parar quando alguém sair do seu eixo. A partir de agora, o melhor que temos a fazer é cada um ir para o seu lado.

- Não faça isso não Osmar. Você não precisa chegar a esse ponto e abandonar pessoas que tanto lhe querem bem. Eu gosto muito de você e não posso perder o seu amor.

- Mas já está feito Gleice. Vou viajar amanhã e passar as festas de final de ano com a família em Cabo Frio. Logo depois voltarei para Timóteo para outro bom período de adaptação. Quero esfriar a cabeça e tentar esquecer todos esses problemas. Quero dar outro caminho para a minha vida. Chega de aborrecimentos e aporrinhações por causa de mulheres. Chega! Chega Gleice, ouviu bem? Não quero mais saber de você nem da Leny! Acabou! Estou fechando o meu coração cheio de amores complicados e abrindo a minha mente para a conscientização e proteção da minha família.

- Quer dizer que tudo que passamos juntos no último encontro foi apenas uma aventura? Que as suas palavras de amor sincero foram apenas da boca pra fora? Não significou nada para você a minha entrega? Que falta de sensibilidade é essa Osmar?

- Nada que eu disse foi da boca pra fora e você já me conhece há muito tempo. Não sou homem de enganar ninguém e criar ilusões na mente das pessoas. Tudo que aconteceu foi desejado e praticado com amor. Mas você não soube guardar o nosso segredo. Estragou tudo com a sua fofoquinha fora de hora. Não quero mais saber de você Gleice e abra sua porta que eu preciso ir embora.

Gleice caiu no choro, se jogou nos braços do rapaz bastante alterado e revoltado e implorou para ele ficar. Tentou beijá-lo e levá-lo pra cama, mas não adiantou. O rapaz estava irredutível e decidido a não desistir da sua decisão. Afastou-se das insistências da ex-colega, abriu a porta, saiu e deixou Gleice aos prantos desesperada e arrependida por aquele rompimento tão inesperado de um envolvimento tão recente. Um rompimento que ocasionou "caminhos opostos" para aqueles três personagens, cortando os laços de uma longa amizade entre eles. A partir daquele momento, com Leny magoada com Osmar, ele aborrecido com Gleice e esta irritada com Leny, os seus rumos passaram a ser longe um dos outros.

É o que veremos no próximo e último capítulo deste romance: "Dois nomes com duas saudades".


14 comentários:

  1. Uma situação complicada. Vidas novas chegando, frutos de relacionamentos confusos, de um triângulo amoroso. Gleice mereceu o que levou! Agiu com impulsividade e magoou sua amiga. Osmar agiu desonestamente, deixando-se levar por paixões momentâneas. Curiosa, para ver o final da história ....

    ResponderExcluir
  2. 04/07/18 00:13 - Sonya Azevedo

    Excelente! Bons diálogos e muito bem narrado. Muita luz e paz. Abs

    ResponderExcluir
  3. 03/07/18 22:09 - Maria Augusta da Silva Caliari

    Amei reler tua especial página,menino poeta.Teus poemas são sempre
    muito bon para ler e retirar nova mensagem a cada leitura.Preciso
    ler teu romance.Não respondi hoje,pois não li os cpítulos
    anteriores.Uma linda noite e o meu abraço carinhoso,amado poeta
    carioca da gema e do meu coração.

    ResponderExcluir
  4. 04/07/18 09:07 - Domingo Lage

    Li esse capitulo e me encantei parabéns Olavo.

    ResponderExcluir
  5. 04/07/18 16:41 - Uma Mulher Um Poema

    Primoroso e excelente capítulo. Parabéns e um grande abraço!

    ResponderExcluir
  6. 04/07/18 18:02 - Marcus Rios

    Um capítulo muito lindo poeta.
    Parabéns! E que Deus nos abençoe e nos ilumine... Sempre...

    ResponderExcluir
  7. 04/07/18 20:59 - Judd Marriott Mendes

    Meus parabéns! Muito bom... Boa noite Mestre... Deixo te o meu abraço

    ResponderExcluir
  8. 05/07/18 17:31 - Luiza De Marillac Michel

    Que delícia de leitura, Olavo! Sob a expectativa do próximo, já te
    parabenizo, pelo seu talento e verve poética apuradíssimos. Meus
    parabéns, da sua leitora amiga, Luiza.

    ResponderExcluir
  9. 06/07/18 00:24 - ELIE MATHIAS

    Primoroso e magnifico diálogo. Forte abraço Poeta Olavo.

    ResponderExcluir
  10. 06/07/18 21:55 - Iolanda Pinheiro

    Ah, esta sua novela eu li do primeiro ao último capítulo. Instigante,
    excitante e cheia de lances. Muita imaginação, querido.Parabéns!





    ResponderExcluir
  11. 08/07/18 12:47 - Cristina Gaspar

    A vida dá tantas voltas, o que é proibido, mas, verdadeiro, sofre na
    caminhada sem desistir. Por outro lado, se só existe paixão sem
    comprometimento, o tempo joga no ralo e alguém sempre sai machucado,
    parabéns pelo texto - enredo e narrativa. Muito obrigada por seu
    carinho e apreço, abraços fraternos, Deus proteja seus dias e
    inspiração.

    ResponderExcluir
  12. 27/08/18 19:03 - Fábio Brandão

    Fez uma bela história que nos dá o prazer de ler do começo ao fim...Um
    abraço e felicidades...

    ResponderExcluir
  13. 24/04/19 21:27 - António Souza

    Osmar procedeu como é na vida real, na verdade ele buscava se auto
    afirmar e mexeu demais com as meninas... vamos pro último capítulo, já
    li, mas vou ler outra vez, pra ver a coerência. Abraços Poeta!

    ResponderExcluir
  14. 24/04/19 21:27 - António Souza

    Osmar procedeu como é na vida real, na verdade ele buscava se auto
    afirmar e mexeu demais com as meninas... vamos pro último capítulo, já
    li, mas vou ler outra vez, pra ver a coerência. Abraços Poeta!

    ResponderExcluir

Agradecemos por registrar seu comentário